Obra evoca experiência dramática da missionação no Japão do século XVII, entre o martírio e a apostasia
O filme ‘Silêncio’, do realizador
norte-americano Martin Scorsese, apresenta a experiência dramática da
missionação no Japão do século XVII, entre o martírio e a apostasia de
leigos e padres, incluindo jesuítas portugueses.
A obra, com estreia marcada para 19 de janeiro, em Portugal, foi hoje
apresentada à imprensa, em Lisboa, e segue de perto o romance homónimo
do católico japonês Shusaku Endo, num “thriller teológico” que aborda a
relação entre o Cristianismo e a mentalidade japonesa, como é explicado
numa edição especial da revista ‘La Civiltà Cattolica’, dos jesuítas
italianos.
O filme de Martin Scorsese evoca, sobretudo, a perseguição de milhares
de cristãos no território nipónico, com interpretações de Liam Neeson,
Adam Driver, e Andrew Garfield.
O realizador centra o seu trabalho no percurso de duas personagens,
identificadas como jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues e Francisco
Garupe - particularmente no primeiro -, que partem à procura de outro
sacerdote da Companhia de Jesus, Cristóvão Ferreira (1580-1650), este
uma figura histórica, que teria renunciado à fé cristã após ser
torturado.
Em entrevista à ‘Civiltà Cattolica’, Scorsese disse que a diferença
entre os padres Ferreira e Rodrigues é que o último “ouve Jesus falar
com ele”.
“Não sabemos, historicamente, aquilo em que o padre Ferreira acreditava
ou não, mas no romance de Endo parece que ele perdeu mesmo a sua fé”, acrescentou.
A apostasia concretizava-se pisando a imagem do próprio Cristo,
representado num ‘fumie’ - um retrato em bronze enquadrado numa pequena
moldura de madeira.
O realizador consultou a equipa dos Arquivos Jesuítas Romanos (Archivum
Romanum Societatis Iesu – ARSI) e outros especialistas jesuítas, para
preparar o argumento.
O filme aborda
questões como o silêncio de Deus diante do sofrimento dos crentes, o
mistério sobre o rosto de Jesus ou a natureza da traição à fé cristã - a
apostasia - em condições extremas.
O jesuíta norte-americano James Martin serviu de consultor durante todo o processo de conceção do filme.
O padre Hermínio Rico, também jesuíta, foi um dos primeiros a ver a
obra e fala do “génio de Scorsese” que “acrescenta à história uma grande
beleza e uma exigente, mas equilibrada, carga emocional”.
A apresentação do filme em Portugal vai ser acompanhada por um programa cultural específico.
O Japão foi evangelizado pelo jesuíta São Francisco Xavier, entre 1549 e
1552, a pedido da Coroa Portuguesa, mas poucas décadas depois
comunidade católica vivia uma dura perseguição: os primeiros mártires,
encabeçados por São Paulo Miki (crucificados em Nagasáqui em 1597),
entre os quais o português São Gonçalo Garcia, foram canonizados em 1862
por Pio IX.
Outros 205 católicos foram beatificados em 1867, entre eles João
Baptista Machado, Ambrósio Fernandes, Francisco Pacheco, Diogo de
Carvalho e Miguel de Carvalho (todos da Companhia de Jesus), Vicente de
Carvalho (religioso agostinho), e Domingos Jorge (leigo, cuja esposa
japonesa e filho também foram martirizados).
Os católicos que sobreviveram à perseguição tiveram de ocultar-se
durante 250 anos, até a chegada de missionários europeus no século XIX.
Ver trailer: https://www.youtube.com/watch?v=eHPAKIMoXIw
Fonte: Agência Ecclesia
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixe aqui as suas sugestões, opiniões e comentários.